Sem referências ou uma proposta de reconstrução*

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Sem referências ou uma proposta de reconstrução*

Assim como alguns setores de nossa economia, a construção civil se encontra em uma situação de estar sofrendo os ajustes necessários à nova economia de mercado, ela passa também por um momento que eu estou chamando de sem referências na gestão empresarial ou a forma como os empresários do setor gerenciam o seu negócio (empreendimentos e obras) juntamente com os seus colaboradores e parceiros.

 

Os modelos de gestão aplicados nas empresas de construção civil, até hoje, com raras exceções, são fortemente influenciados e até dirigidos pela função organizacional de marketing ou comercial das empresas, essa função de importância indiscutível em qualquer organização, mas que na construção civil  o modelo de gestão fica desequilibrado, fazendo com que as outras funções, como: produção, administração, controle, desenvolvimento, etc., ficassem no demérito com relação à sua importância como funções organizacionais.

Pesquisa

É muito comum ainda na construção civil o desenvolvimento tecnológico e gerencial ser colocado em segundo plano (ver pesquisa da McKinsey).

Como vemos por essa pesquisa da MCKinsey, o setor de construção é o mais refratário de todos às tecnologias das mais diversas formas. Temos as mais diversas ofertas em softwares e equipamentos digitais ultramodernos tecnologicamente e capazes de acrescentar em muito na produtividade e qualidade para a construção civil.

A eficácia desses modelos de gestão foi nos últimos tempos, se esvaziando, sendo que não existe uma causa única, mas sim um conjunto de causas. Como exemplos: a constante variação de nossa economia em altos e baixos; a desmobilização estatal, ou seja, a passagem de um estado comprador para um estado quase que só devedor; o aumento da concorrência, que é mais um efeito do diminuto número de obras feitas pelo estado; o desenvolvimento dos novos conceitos de gerenciamento aliados a um grande aumento da tecnologia e por fim o crescente poder dos clientes sempre reivindicando por produtos e/ou serviços melhores.

Essa perda de referência a modelos de gestão, mais os ajustes necessários à nova economia de mercado, trouxe para a construção civil uma desmobilização, fazendo com que grandes, médias e pequenas empresas, com ou sem cuidados necessários, desmobilizassem os seus quadros de diretores, gerentes e funcionários, às vezes até no atacado. Formando desta maneira um quadro básico de empresa sobrevivente nesse mercado bastante instável.

Solução

Mas qual é a solução? Penso que é a reconstrução. E vou enumerar algumas ações que considero fundamentais para essa reconstrução:

  • Primeira: o empresário deve reconhecer a situação em que se encontra e definir quais são as suas novas estratégias para esse novo Um exemplo de “estratégia” ineficaz, praticada ainda por muitos, é admitir que o cliente da construção civil ainda aceita passivamente o nível de qualidade apresentada;
  • Segunda: o empresário deve reconhecer que as pessoas estão precisando de atenção para o necessário às novas exigências. Ainda praticado por muitos é o fato de o empresário não investir como devia em educação e treinamento. Está mais do que provado que o retorno é rápido e muito rentável. Não dá mais para ver o empresário dizer que não vai “treinar ninguém para os seus concorrentes”. Agindo assim, temos um círculo vicioso onde ninguém treina ninguém;
  • Terceira: o empresário deve reconhecer que seus métodos gerenciais de administrar suas obras/empresa já estão ultrapassados, não trazem mais os retornos esperados e paradoxalmente são os grandes responsáveis pelas grandes perdas na construção civil. Como exemplo de uma forma de gerenciar ultrapassada e ainda praticada por muitos: é o empresário que não investe em planejamento, projetos, programação, orçamentação, acompanhamento e controle do seu negócio/obras e dessa forma tornando-o imprevisível, tendo como resultado: erros, desperdícios, moral baixo de sua equipe, baixo lucro e a insatisfação dos seus clientes. Da mesma forma que se investe em pessoas e estratégias, devemos investir em métodos gerenciais e tecnologias. Hoje temos à nossa disposição várias tecnologias, softwares e métodos gerenciais de altíssimo desempenho a custos acessíveis.
  • Quarta: o empresário deve, de forma corajosa e transparente, possibilitar a participação dos seus colaboradores nos lucros e resultados de sua empresa. Está mais do que provado que um profissional, com seus objetivos, metas e meios para alcançá-los definidos e negociados e uma remuneração e premiação pelas conquistas desses objetivos, fica altamente motivado. Em minhas consultorias as maiores perdas que detecto tem como causa a baixa motivação e despreparo das pessoas.

Talvez estas quatro sugestões de ações não sejam ainda a solução definitiva para o setor de construção civil, mas penso que o empresário tem na difícil missão de ser empresário, mais essa que é a de recolocar, sua empresa no rumo de um mercado muito diferente daquilo que tivemos até então.

Agindo assim poderá dar o passo necessário à busca da nova empresa a ser reconstruída.

Em meio aos receios e conflitos, temos várias dores sentidas por todos os envolvidos:

  • Necessidade de recursos financeiros;
  • Aumentar as vendas;
  • Gerar caixa positivo;
  • Reduzir custos;
  • Necessidade de crescimento;
  • Reduzir os riscos;
  • Estruturar ou reestruturar a gestão, controle e governança;
  • Usar a tecnologia da informação.

 

E para complicar mais ainda essas dores, existe a concorrência que não para de buscar os melhores clientes. E para essa busca dos melhores clientes, a concorrência não para de melhorar suas estratégias, produtos e serviços e a famosa margem de lucro.

A quantas andas nossa capacidade de governança e gestão?

Como usar adequadamente todos os recursos que se tem de forma a não tornar mais difícil o desafio?

Como mitigamos os riscos que corremos nesse caminho?

Qual o momento a se fazer esse movimento de transformação e melhoria? Em minha opinião é a toda hora e de preferência quando o céu está de brigadeiro, sem tormentas à vista.

É sobre isso que falo nesse texto.

O caminho

Na implantação e uso da tecnologia de gestão são necessários o uso de diversos recursos, como: conceitos, métodos, ferramentas e softwares.

Qual seria então o caminho das pedras para uma boa implantação dessa tecnologia, ferramentas e softwares de gestão para empreendimentos imobiliários?

A minha sugestão é a de que precisamos fatiar essa questão.

Preparei a figura 2 que mostra essas fatias, baseadas nos processos e gestão, pessoas e tecnologias de informatização e automação dos processos, que comento a seguir:

O primeiro passo a se dar será conhecer as estratégias, objetivos e metas empresariais. Para isso, o melhor é termos ajuda de consultores e assessores internos ou externos.

A liderança e equipe da empresa deve parar por um momento e refletir sobre a empresa e mercado em que está inserida, definindo estratégias, objetivos e metas e não se esquecendo de entender a fundo como os receios e conflitos citados anteriormente influenciam a dinâmica da gestão de uma empresa de incorporação e construção de empreendimentos.

É entendendo cada uma das dimensões (incorporação, concepção, projeto, comercialização, venda e o financiamento dos empreendimentos) e o quanto elas se complementam e se divergem. Quando falo em complementos até que são bem-vindos, o problema é com as divergências, elas são discretas e desagregadoras e influenciam em toda o processo, desde a concepção até a entrega final do empreendimento.

Ainda no núcleo do empreendimento, temos a função de liderança que será fundamental em todo o processo. Não adianta levantarmos um conjunto de estratégias, objetivos e metas e não fazer cumprir a todas. Entra em campo então o que precisamos em todas as formas de empresas e organizações que é a liderança. O líder será o farol para o cumprimento das estratégias, objetivos e metas para com a empresa e seus empreendimentos.

Analisado o núcleo do problema pela estratégia e liderança, agora o segundo passo, processos e gestão, está baseado na necessidade de cumprirmos o que foi contratado. Não se implanta o processo de planejamento, orçamento e controle de empreendimentos sem o conhecimento de quais os processos necessários e de como eles funcionam. No mundo dos empreendimentos, não há forma diferente de cumprir o contratado sem fazermos um planejamento do que vai ser feito e acompanharmos a realização até a entrega do empreendimento.

Começamos então pela análise, desenho ou mapeamento dos processos e seus fluxos existentes e respectiva gestão da empresa. Essa análise tem duas etapas que denominamos a primeira a de “entendimento”, ou seja, entendermos o que está rolando a que chamamos de “as is” (como é feito) e a segunda será o “to be” ou “como deve ser feito”.

Com os fluxos de “as is” e “to be” em mãos, poderemos precisar mais as necessidades de melhorias para todos os processos e iniciarmos a descrição dos processos definitivos para a empresa.

Após a descrição do mapa da mina, definiremos os objetivos e indicadores para as áreas/processos, tais como: margem, custo, tempo incorrido, qualidade, sobre SSO – Segurança e Saúde Ocupacional, sobre MA – Meio Ambiente, e sobre os diversos stakeholders.

A gestão das áreas/processos de incorporação, concepção, projeto, comercialização, venda, construção e o financiamento ficam então bastante facilitadas com as estratégias, objetivos, metas e o como deve ser feito. Possibilitando o acompanhamento e controle eficaz dos resultados contratados e planejados.

O terceiro passo para a implantação da tecnologia para automação dos processos na construção civil, são as pessoas. Como temos que integrar diferentes métodos, negócios, ferramentas em diversos processos e contexto, as pessoas passam a ser mais um ponto de atenção e dependência de sucesso nesse desafio. Elas devem ser escolhidas com muita atenção pois precisam de possuir características principais como:

  • O alinhamento à cultura;
  • Entender do negócio;
  • Dominar a tecnologia da informação;
  • Conhecer os métodos e ferramentas de planejamento, orçamento e controle.

 

A informatização ou automação do processo

É por último a identificação e escolha da tecnologia para a automação (informatização) dos processos.

Nessa etapa, temos que fazer algumas considerações pois o setor de construção civil não apresenta simpatias com a implantação de tecnologias e de softwares (ver figura 3)

Como fazer?

Temos que ter paciência e estudarmos caso a caso cada solução. Os softwares para a construção civil são vários! Por exemplo:

  • Prefira os softwares ERPs e verticais;
  • Os módulos de planejamento, acompanhamento e controle devem ser integrados ao ERPs;
  • Temos vários aplicativos que nos auxiliam no CQ – Controle de Qualidade e que são facilmente implantados e operados;
  • A tecnologia de elaboração de checklist deverá ser integrada com o CQ – Controle de Qualidade;
  • Os softwares de execução de projetos já estão trabalhando com os conceitos de BIM;

 

Conselhos

Finalizando o meu artigo, preciso apresentar mais alguns conselhos para com a implementação e acompanhamento e sucesso do projeto de melhoria:

  • Tomada de consciência inicial da necessidade de melhoria;
  • Deve haver consenso na diretoria sobre a necessidade do projeto;
  • A contratação de consultores experientes é fundamental;
  • Deve haver um líder para conduzir o projeto;
  • O planejamento e acompanhamento e auditorias devem ser constantes;
  • A mudança deve ser implantada em sintonia com a realidade.

Seguindo esses passos a chance de sucesso é certa!

 

*Marcelo Ribeiro de Godoi

Consultor, Mentor, Conselheiro e Palestrante

CEO da MGODOI Serviços Ltda

Telefone: +55 (31) 99982-9428

e-mail: [email protected]

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